A Comissão de Comunicação do II Copene Sul, compreendendo a importância do debate em torno da questão da apropriação cultural, reproduz neste espaço o debate sobre a “Carta de Repúdio ao Maracatu Aroeira”, que foi assinada por estudantes e ex-estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e publicizada pelo Coletivo de Estudantes Negros e Negras na UFPR – Sou Neguinh@! - no último 16 de maio.
Entenda o caso
A carta torna público o repúdio a uma situação ocorrida no final de abril, durante a apresentação do Grupo Maracatu Aroeira, em Curitiba. Na ocasião, um dos integrantes do grupo (um homem branco) utilizou de violência contra uma mulher negra, dando um “leve” toque com uma das baquetas, parte de um instrumento de percussão, com o argumento de que ela estava “atravessando” a apresentação. Após o fato ocorrido, houve uma discussão e uma mulher branca, que também faz parte do grupo de Maracatu, utilizou um discurso elitista e autoritário, que conforme a redação da carta, “foi proferido aos gritos de: “você sabe com quem está falando?”; “faz dez anos que estudo o Maracatu”, “sou branca de alma negra”; dentre outras colocações””.
O documento deixa explícito que uma mulher negra ser questionada por ‘atravessar’ uma apresentação não deveria gerar agressões físicas e verbais com cunho racista e fundamentado em um discurso de autoridade. Mais adiante, afirma que esse tipo de apropriação (cultural) afasta o Maracatu de seu lugar de origem, que é a periferia e os bairros das cidades, espaços esses compartilhados, sobretudo, por pessoas negras. As pessoas que assinaram a carta reconhecem que o Maracatu "é extremamente necessário quando este faz conexão de fato com a cultura afro-brasileira como forma de resistência, como forma de resgatar o histórico de lutas e conquistas, quando este é direcionado ao empoderamento da população negra”. E lembram que “a apropriação cultural foi uma política que buscou e ainda busca apagar traços da cultura negra,(...) na tentativa de desmobilizar o fortalecimento da identidade da população negra e marginalizá-la ainda mais”.
Nota da Comissão de Comunicação do II Copene Sul Curitiba
A Comissão compreende que o conteúdo da carta deve ser conhecido por todos/as congressistas, uma vez que trata de um caso que envolve a manifestação de uma cultura afro-brasileira em uma cidade da região sul do país. Além disso, vários Eixos Temáticos do II Copene Sul receberão trabalhos científicos que poderão problematizar temas semelhantes a partir das discussões sobre cultura, questão urbana e segregação racial e áreas afins. Também entende que as manifestações culturais sobre a cultura negra não podem ser deslocadas dos sujeitos negros.
Clique aqui para ler a íntegra da carta divulgada no blog do Coletivo Sou Neguinh@!, que também foi reproduzida no Portal Geledés.
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